segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Domingo a tarde II (Raul)

Estavam todos por alí, sentados na grama, sorrindo enquanto os últimos raios de sol acariciavam suas peles brancas, desacostumadas com a presença do astro. Uma celebração ao bom tempo, já que não temos mais colheita nem para quem agradecer. Alguns tinham os olhos amenos da tranquilidade, outros mal os mostravam de tanto que riam, outros fitavam apenas as mãos do violeiro, que jogava ao ar melodias de paz.

Muitos eram os que chegavam, alguns juntavam-se ao grupo a cantar, outros só olhavam de longe, com feições divertidas de quem está gostando do espetáculo mas tem vergonha de ser ator. Tanto dentro quanto fora, tinha gente que se importava com besteiras e gente que não se importava com nada. Eu só me importava em observar, ignorando os preconceitos. Que venham todas as línguas, todas as culturas, que venham novas pessoas, novos mundos.

Distraído com toda a festa não percebi, uma nova figura se aproximou. Jovem, alto, cabelo e barba encaracolados, na boca um sorriso tímido, seus olhos castanhos perdiam-se no horizonte, cheios de esperança, sem mágoa nem rancor, completamente honestos. Por alguns segundos não soube o que pensar, podia ter a roupa suja e o aspecto indigente, mas não tinha amargura. Era melhor do que muitos alí.

Uma guria levantou-se chamando-o pelo nome: Raul! Na face estampada a alegria e a satisfação de encontrar alguém querido. Expressão acentuada por sua bela maquiagem e cabelo vermelho curto. Deu-lhe um breve abraço e olhou-o nos olhos ainda sorrindo. Enquanto perguntava como estavam as coisas alcançou-lhe uma garrafa. Os dois desceram um pequeno morro conversando e não ví para onde foram, na minha mente estava estampada a face de Raul, seus olhos inocentes e sonhadores, felizes.

Muitos poderíam dizer que ele era apenas um louco e ela uma excêntrica. Mas eu percebi a verdade naqueles olhares, percebi a autenticidade. No mesmo día presenciei estupidez e ódio, fiquei a me perguntar: quem eram de fato os loucos?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A Vida (Como conduzi-la, ou como não)

Conselhos com relação à forma que se deve conduzir a vida são completamente inúteis e consequentemente devem ser desconsiderados por aqueles que pretendem ser fiéis a sí mesmos e suas escolhas.

Supondo que ninguém se encontra satisfeito com sua condição atual, almejando tornar-se diferente do que é no momento, na eterna sensação de insatisfação e ambição, os conselhos de qualquer pessoa são reflexos de frustrações ou vontades. Ao seguir conselhos o ser torna-se parecido com a imagem criada pelo conselheiro, alcançando uma condição sonhada por este, que por não ser real e muito menos embasada na consciência do aconselhado tem uma probabilidade mínima de ser eficaz.

A única forma sensata de se tomar decisões na busca de resultados aprazíveis é a desconsideração de conselhos e fórmulas pré-estabelecidas. O ser deve analisar tanto experiências quanto pensamentos alheios, e através do questionamento elaborar suas próprias verdades, provadas por meio da experiência própria. Cada ser é único, percebe o mundo de forma diferente, reage ao mesmo distintamente. Dois mais dois pode perfeitamente ser cinco.