quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sob o Luar

Que beleza andar por estas ruas tortas
Tropeçar nestas lajotas
Cair nessas vidas alheias
Compartilhar som e cervejas

Que beleza sentar na calçada
Desta via pouco movimentada
Te escutar falar da amada
Ou qualquer coisa pra dar risada

Que beleza tragar este cigarro
Depois deste blues improvisado
Que mesmo sem sentido nem rima
Pra mim é obra prima

Que beleza escutar este violão, esta gaita
Essas vozes, batuques e palmas
Este chocalho que me quebra o galho
Já que não toco instrumento, mas conheço o tempo

Que beleza esta noite gelada
Esta noite honesta e largada
Estas vidas despreocupadas
Que se cruzam, curtem e partem

Que pena que se esqueceram de marcar
Outro lugar e hora pra se encontrar
Agora já é tarde, só resta sonhar
Com aquela bela noite sob o luar

terça-feira, 21 de julho de 2009

Por que o ser humano pós-moderno encontra-se tão frequentemente imerso em tristeza? Será realmente uma característica exclusivamente pós-moderna? Talvez apenas surgiu uma nova roupagem para esta sensação inerente à consciência.

A felicidade, como a fantasiamos, se daria pela satisfação dos desejos do ego, pela conquista das liberdades individuais. Que em sua maioría tornam-se impossíveis devido à organização da vida em sociedade. Das normas, regulamentações e principalmente do respeito. Assim nos limitamos.

Para substituir as ansias instintivas/animalescas, criamos novos conceitos de realização e consequente felicidade. Todas associadas à máquina social, ao reconhecimento, falsas em sua essência, essenciais à manutenção da sociedade.

Se neste ambito é impossível vislumbrar saída (estamos presos à sociedade), me parece que devemos buscar a satisfação na simplicidade, não negar o impulso. Como me aconteceu neste final de semana, dar um abraço ébrio numa pessoa desconhecida que surgiu aleatóriamente e ocupou alguns longos instantes da minha vida. Depois rir-se disso sem se preocupar com o que pudesse ter parecido, sabendo apenas que foi honesto e verdadeiro.

Me disseram que felicidade não é felicidade se não for compartilhada, realmente, não há melhor maneira de se sentir feliz do que fazer outros felizes, há, aqui estou eu novamente, no egoísmo do altruísmo. Mas desta vez eu consegui me enganar muito bem, acho que aprendi esta mentira como verdade, e ainda acredito nela.

domingo, 5 de julho de 2009

Sobre a consciência, a tristeza e o stress

Diz-se que o ignorante é mais feliz.

Não sei se é uma verdade, porém creio que ele seja menos infeliz. Normalmente associa-se a ignorância às classes sociais inferiores, parte disso deve-se ao fato das pessoas pertencentes a elas serem menos conscientes. Na condição de extrema pobreza o individuo sofre de desnutrição, o que gera uma incapacidade de pensamento elaborado, a preocupação se resume a fome. Já em classes operárias acontece a exaustão da condição física por meio do trabalho pesado. Ao final do dia a única preocupação é com o descanso.

O ser dito inteligente não sente-se satisfeito em permanecer inerte, necessita se expandir. Gasta sua energia com o intelecto. Estuda, lê, informa-se, por consequência torna-se mais consciente. Desta consciência surge inevitavelmente a tristeza. O ser percebe a condição do mundo que o cerca e de sí mesmo, a falta de coerência, a podridão, a inutilidade e a inercia. Percebe sua condição de incapacidade, sente-se como um doente que sofre uma operação sobre o efeito de uma anestesia que não lhe priva dos sentidos mas o priva da capacidade de ação, sente a navalha a lhe cortar mas não é capaz de fazer nada para parar o processo.

Daí surge o stress, ocasionado pelo peso dos problemas tanto exteriores quanto interiores. A consciência sobrecarrega o ser ao ponto do mesmo não mais suportar. Em razão da não exteriorização por meio da ação, impossível devido a massificação da ignorância, o stress se acumula até o ponto em que não é mais possível ser contido, o resultado é o colapso nervoso. Sem motivo aparente o ser explode, em raiva, carência e insanidade.

Excluíndo-se o suicídio a solução seríam doses ocasionais de alienação, de Soma. Infelizmente após o efeito a consciência retorna, ainda mais forte, o próprio Soma torna-se ineficaz. O ser consciente não consegue enganar-se.

Parece que a inteligência, resultado da evolução, tornou-se conflitante com a própria evolução. Talvez a inteligência, da forma que a apresento, não seja realmente inteligência, pelo menos no ponto de vista evolutivo. Quanto mais consciênte torna-se o ser, mais ele percebe como é imbecil e limitado.

Minha cabeça não pára de girar e se remoer. Tudo contitui um circulo vicioso, um eterno retorno, de onde me é impossível escapar.