quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Desabo moribundo no sofá, aguardando pela morte de uma vida dentre tantas que enfrentei e enfrentarei. Escuto palavras de ordem, palavras que me tocam, que me questionam a inércia, que me questionam as razões. E eu não tenho resposta, não sei se de outra forma teria. Não acho direção, e os sinais eu sei são todos falsos. Mas nem mesmo na degradação destes eu acho sentido. Então te encontro por aí, pra me entorpecer, e depois eu me pergunto, é só isso que nos resta? É só isso que nos resta?

sábado, 10 de outubro de 2009

Num final de tarde, sábado, ensolarado porém agradavelmente frio, vaguei por diversas ruas na tentativa de buscar o inesperado. Passei por arvores e calçadas espanholas, onde pessoas sentavam-se no chão aguçando os sentidos auditivos e visuais para curtir o som e a imagem da música e dos camaradas. Continuei a vagar percebendo que hoje ali não era o meu lugar. Ruas silenciosas, onde jornais esvoaçantes me cumprimentavam na ausência de pessoas. Passei pelo centro velho, com seus decadentes edifícios e putas, sorrisos corroídos pela chuva ácida e narizes furados e agonizantes de cocaína. Grupos de pseudo-hipsters de boutique passavam com sua vulgaridade característica enquanto eu seguia meu caminho inconscientemente guiado às velhas lembranças. Acabei no banco da praça, da velha praça comprida e esmagada entre dois prédios que remetem ao clássico e ao moderno, numa eterna luta de estilos. Você chegou simultaneamente, logo estávamos ali, só nós dois, nos curtindo a frente do chafariz que evocava um gêiser constante em sua coluna caótica de água que nunca repete os movimentos dançantes na infinidade de possibilidades sonhadoras. A nossa volta casais e famílias passeavam devagar, comendo pipoca ou fazendo poses ridículas para fotos que só serviam de pretexto para mais um beijo cego de paixão. Crianças corriam e emitiam seus gritinhos de satisfação enquanto brincavam com balões, cãezinhos e pombos que executavam sua rotina de sobrevivência comendo as migalhas que velhos aposentados jogavam a sua volta, na esperança que alguém, mesmo que fosse apenas um animal pestilento, lhes desse atenção. Eu acariciava seu corpo delicado, puramente branco, enquanto você me olhava com a boca delicadamente entreaberta. Acendi um cigarro e vimos a fumaça misteriosamente se erguer esguia no ar na mesma freqüência que a água escorria pelas arestas do cimento pintado de amarelo. Não demorou muito para o beijo acontecer, doce, me enchendo de prazer, me rejuvenescendo, tornando minha vida mais aprazível. Curtimos mais uns momentos daquele transe e de repente você ficou amarga, como me rejeitando. Apareceu um sujeito estranho, ávido por te possuir, não vacilei em te entregar, e você também não demonstrou repulsa nem ressentimento, partiu com outro sem se despedir. Não importa, muitas outras eu encontrarei, e jogarei fora quando tiver sugado tudo que tiverem para me dar, deixando-as secas em alguma lata de lixo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Para Burroughs

Espasmos borbulhantes sulfurosos de liberdade explodem dentro do peito apertado de pseudo-melancolia advinda das correntes do comodismo barato. Um misterioso sorriso de gato se abre ao ler os conselhos duros, porém carinhosos do viajante da América do Sul em cut-ups alucinados de consciência expandida nos rituais indígenas e quartos bolorentos de hotéis baratos, presenciados por espectros com faces de caveira envoltos em serpentes coloridas recitando poemas sobre a morte com vozes bestiais de espíritos da floresta. A mente se excita e o corpo se energiza com sonhos loucos correndo a milhão por vias que se contraem em abstinência aguardando pelo orgasmo atômico de destruição para a auto-fecundação e nascimento de um novo ser, mutante. Onde estás? Não me escreves mais. Partirei em jornada pelos labirintos até encontrar-te em mim, plenamente iluminado.