quarta-feira, 27 de maio de 2009

Saber

Quanto mais se sabe
Mais se sabe
Que não se sabe de nada
Sabe?
Não sabe do que eu sei
Que eu sei que sabia
Que eu sei que não sei mais
Agora só sei que quero saber
Pra saber que nada se sabe
Mas que preciso saber
Só pra poder me entreter

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Novamente olhos ao chão e fumaça à boca, dessa vez estático. Observava os ladrilhos e as folhas secas abaixo dos meus pés. Gradativamente fui me aconchegando ao ambiente, a fumaça, sempre presente, dava a atmosfera contemplativa, e eu fitava apenas o pequeno espaço abaixo de mim.

Suavemente, através dos olhos embaçados, percebi uma tímida movimentação. Pequenos pontos pretos piscavam aqui e lá aleatoriamente. Forcei um pouco a visão para voltar ao mundo real das imagens e constatei sem surpresa que formigas seguiam seu caminho alheias à minha presença.

Seres mínimos, orientadas pelo rastro deixado por outros de sua espécie, para mim pareciam estupidamente perdidas. Carregando fardos enormes sem realmente saber o por quê. Imaginei uma interação no seu mundo particular, bagunçar sua orientação esfregando tabaco em seu caminho. Com certeza tal fenômeno sería catastrófico em seu pequeno mundo. Vagariam tontas em busca da via perdida, sem largar o seu fardo, a espera que uma semelhante lhes conduzisse na direção correta. Completariam sua tarefa e a repetiriam novamente.

Que seres idiotas, pensei. De um lado para o outro sem parar, sem pensar, sempre a ignorar e continuar, que vida miserável! Num suspiro de piedade levantei os olhos e observei o meu redor, vi passando por mim homens, de um lado para o outro, sem parar, sem pensar, sempre a ignorar e continuar.

sábado, 16 de maio de 2009

Expressão, Impressão, Redenção

Nesta questão metafísica
Não há verdade nem mentira
Ao que o autor expressou
O jovem garoto suicidou
Veja só que ironia
O escritor preservou sua vida

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Vasculho a memória, em busca do que me falta, sensação de esquecimento. Num dos bolsos trago a música, noutro o vício. O que mais eu preciso? Todos os dias é igual, eu chego ao final e a dúvida permanece. Verifico compulsivamente as trivialidades. Necessidade de simplificar. Quem dera pudesse encontrar, por acaso atrás do sofá, aquilo que não sei o que é.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Lembranças da infância

A psicodelía original
Tudo pela primeira vez
Imagens desconexas
Cores intensas

Via o mundo do alto
Cavalgando o velho dragão
Que baforava seu hálito quente
Arrastando sua barriga pelo mato alto da estrada

Espadas luminosas cortavam as nuvens
Fincando-se no chão de amarelo, verde e marrom
Vou me sentar aqui, me deu vontade
Nessa casa podre de madeira, com suas panelas de ferro

Pode ir, eu sou corajoso
Posso correr sem me cansar
Morro acima em direção a gigante araucária
Onde o vento me traz mensagens distantes

Socorro, tem uma serpente em minha mente
Fique comigo agora que está escuro
Me conte dos bugios que rondam a floresta
Enquanto eu durmo ao som dos grilos e dos sapos

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Banalidades Sobre Vivência

- Faltou 1 real
- Hã ? (cara de estranheza enquanto vasculhava os bolsos em busca das moedas faltantes, previamente contadas)
- Faltou 1 real, é 4 e 25 (cara de sarcasmo de não fumante filha da puta)
- Puta que pariu, caralho, políticos desgraçados, IPI da porra!!! (isto tudo em pensamento) – Não, obrigado... (na face estampadas as ofensas pensadas).

É foda... (não costumo escrever muitos palavrões nos meus textos, mas este evento me abalou, afinal, é questão de sobrevivência). Não fumantes muito felizes e contentes com a desgraça alheia. “Que maravilha” gritam extasiados enquando dão seus pulinhos de satisfação. (devaneios exagerados, eu sei, mas precisava satirizar estes sádicos).

Veio a crise, demissões, desespero, falta de demanda, falta de dinheiro. Enquanto isto na sala da justiça, nossos políticos pensavam como solucionar tais problemas. Já sei, gritou Mantega, vamos diminuir o IPI dos carros! O rombo agente cobre aumentando o dos cigarros. (Afinal, caos urbano e aquecimento global são pouca bobagem). Todos concordaram, com exceção de Lula, que preocupado com suas cigarrilhas resmungou em sua cadeira.

Agora eu terei que pagar para que outros joguem mais fumaça, façam mais barulho e quase me atropelem quando estiver caminhando por aí (ok, pensamento simplório). Mas pensando bem, porque eu, que mato somente a mim mesmo, tenho que pagar a conta? Por que não diminuir os salários absurdos de políticos e fiscais, e regular melhor os gastor públicos? Ora, quem vai se fazer estas perguntas quando existe o bode expiatório perfeito, os malditos fumantes, seres não humanos, sem direitos.

Ah claro, a saúde pública, ótimo, quem é que vai parar de fumar por causa do preço? Ou paga mais, ou compra do Paraguai, ou compra fumo de rolo e enrola em casa, mas parar acho difícil. Política de arrecadação de fundos perfeita, explorar o vício alheio, vai ter gente comendo pior para poder comprar o cigarro, afinal, segundo Huxley os gastos com tabaco e alcool são maiores do que os com comida. Na China foi o contrário, pelo escandalo que gerou, a lei já caiu, mas o consumo de determinada quantia de cigarros foi imposta aos funcionários públicos na província de Hubei, lá o cigarro é monopólio do governo. Enfim, saúde pública de cú é rola, o que importa é a saúde econômica, ou melhor, saúde econômica dos poderosos, acionistas e governantes.

De qualquer forma em 15 anos, quando estiver pagando 20 reais na carteira vou lembrar-me de hoje com saudades, o tempo que o cigarro era só 4 e 25.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Estou seco,

As últimas gotas de umidade foram evaporadas por meu cigarro amargo, meus labios queimados não são capazes nem de sentir seu beijo. Meu peito se comprime, meus pulmões dóem, meu coração não mais bate, meus olhos não tem mais brilho.

Estou seco.

Não posso verter uma lagrima sequer. A escuridão está tão densa, que absorveu meu ser, transformou-o em uma massa viscosa, preta como petróleo, pesada como chumbo. Tão densa, criou gravidade, me engole aos poucos como um buraco negro. Preciso apenas de uma lágrima, para me libertar, uma lágrima ácida que corroa minha angústia.

Estou seco.

domingo, 3 de maio de 2009

De repente apareceu, num segundo estava lá. De repente a consciência, a percepção. De repente um espelho, e então começou. Nunca mais parou, primeiro as simples, motivo de risos, depois mais complexas, inteligentes, e por fim, as impossíveis. Perguntas sem resposta.

De repente a razão, a negação, a constatação. De repente a desilusão. Sempre mais, e ele cada vez menos, não de repente, mas gradativamente. Nasceu sabendo tudo, e foi desaprendendo pouco a pouco, a cada livro, a cada conversa, a cada pensamento.

Foi afundando, ficando acinzentado, corcunda, repugnante. Não demorou muito para adoecer, lhe faltava a vontade. De repente fraco, de repente debilitado, de repente dependente, de repente uma cama, aconchegante e quente. Noites infinitas de morte, esquecimento, de repente inconsciência.

Conflito, dualidade, suícidio, imortalidade. Curou-se da doença, levantou-se e foi, levando no rosto uma expressão enigmática, misto de amargura com ironía. Desde então vem vivendo de momentos, sustos e surpresas, enganando a sí mesmo o melhor que pode.