quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Desabo moribundo no sofá, aguardando pela morte de uma vida dentre tantas que enfrentei e enfrentarei. Escuto palavras de ordem, palavras que me tocam, que me questionam a inércia, que me questionam as razões. E eu não tenho resposta, não sei se de outra forma teria. Não acho direção, e os sinais eu sei são todos falsos. Mas nem mesmo na degradação destes eu acho sentido. Então te encontro por aí, pra me entorpecer, e depois eu me pergunto, é só isso que nos resta? É só isso que nos resta?

sábado, 10 de outubro de 2009

Num final de tarde, sábado, ensolarado porém agradavelmente frio, vaguei por diversas ruas na tentativa de buscar o inesperado. Passei por arvores e calçadas espanholas, onde pessoas sentavam-se no chão aguçando os sentidos auditivos e visuais para curtir o som e a imagem da música e dos camaradas. Continuei a vagar percebendo que hoje ali não era o meu lugar. Ruas silenciosas, onde jornais esvoaçantes me cumprimentavam na ausência de pessoas. Passei pelo centro velho, com seus decadentes edifícios e putas, sorrisos corroídos pela chuva ácida e narizes furados e agonizantes de cocaína. Grupos de pseudo-hipsters de boutique passavam com sua vulgaridade característica enquanto eu seguia meu caminho inconscientemente guiado às velhas lembranças. Acabei no banco da praça, da velha praça comprida e esmagada entre dois prédios que remetem ao clássico e ao moderno, numa eterna luta de estilos. Você chegou simultaneamente, logo estávamos ali, só nós dois, nos curtindo a frente do chafariz que evocava um gêiser constante em sua coluna caótica de água que nunca repete os movimentos dançantes na infinidade de possibilidades sonhadoras. A nossa volta casais e famílias passeavam devagar, comendo pipoca ou fazendo poses ridículas para fotos que só serviam de pretexto para mais um beijo cego de paixão. Crianças corriam e emitiam seus gritinhos de satisfação enquanto brincavam com balões, cãezinhos e pombos que executavam sua rotina de sobrevivência comendo as migalhas que velhos aposentados jogavam a sua volta, na esperança que alguém, mesmo que fosse apenas um animal pestilento, lhes desse atenção. Eu acariciava seu corpo delicado, puramente branco, enquanto você me olhava com a boca delicadamente entreaberta. Acendi um cigarro e vimos a fumaça misteriosamente se erguer esguia no ar na mesma freqüência que a água escorria pelas arestas do cimento pintado de amarelo. Não demorou muito para o beijo acontecer, doce, me enchendo de prazer, me rejuvenescendo, tornando minha vida mais aprazível. Curtimos mais uns momentos daquele transe e de repente você ficou amarga, como me rejeitando. Apareceu um sujeito estranho, ávido por te possuir, não vacilei em te entregar, e você também não demonstrou repulsa nem ressentimento, partiu com outro sem se despedir. Não importa, muitas outras eu encontrarei, e jogarei fora quando tiver sugado tudo que tiverem para me dar, deixando-as secas em alguma lata de lixo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Para Burroughs

Espasmos borbulhantes sulfurosos de liberdade explodem dentro do peito apertado de pseudo-melancolia advinda das correntes do comodismo barato. Um misterioso sorriso de gato se abre ao ler os conselhos duros, porém carinhosos do viajante da América do Sul em cut-ups alucinados de consciência expandida nos rituais indígenas e quartos bolorentos de hotéis baratos, presenciados por espectros com faces de caveira envoltos em serpentes coloridas recitando poemas sobre a morte com vozes bestiais de espíritos da floresta. A mente se excita e o corpo se energiza com sonhos loucos correndo a milhão por vias que se contraem em abstinência aguardando pelo orgasmo atômico de destruição para a auto-fecundação e nascimento de um novo ser, mutante. Onde estás? Não me escreves mais. Partirei em jornada pelos labirintos até encontrar-te em mim, plenamente iluminado.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Domingo a tarde II (Raul)

Estavam todos por alí, sentados na grama, sorrindo enquanto os últimos raios de sol acariciavam suas peles brancas, desacostumadas com a presença do astro. Uma celebração ao bom tempo, já que não temos mais colheita nem para quem agradecer. Alguns tinham os olhos amenos da tranquilidade, outros mal os mostravam de tanto que riam, outros fitavam apenas as mãos do violeiro, que jogava ao ar melodias de paz.

Muitos eram os que chegavam, alguns juntavam-se ao grupo a cantar, outros só olhavam de longe, com feições divertidas de quem está gostando do espetáculo mas tem vergonha de ser ator. Tanto dentro quanto fora, tinha gente que se importava com besteiras e gente que não se importava com nada. Eu só me importava em observar, ignorando os preconceitos. Que venham todas as línguas, todas as culturas, que venham novas pessoas, novos mundos.

Distraído com toda a festa não percebi, uma nova figura se aproximou. Jovem, alto, cabelo e barba encaracolados, na boca um sorriso tímido, seus olhos castanhos perdiam-se no horizonte, cheios de esperança, sem mágoa nem rancor, completamente honestos. Por alguns segundos não soube o que pensar, podia ter a roupa suja e o aspecto indigente, mas não tinha amargura. Era melhor do que muitos alí.

Uma guria levantou-se chamando-o pelo nome: Raul! Na face estampada a alegria e a satisfação de encontrar alguém querido. Expressão acentuada por sua bela maquiagem e cabelo vermelho curto. Deu-lhe um breve abraço e olhou-o nos olhos ainda sorrindo. Enquanto perguntava como estavam as coisas alcançou-lhe uma garrafa. Os dois desceram um pequeno morro conversando e não ví para onde foram, na minha mente estava estampada a face de Raul, seus olhos inocentes e sonhadores, felizes.

Muitos poderíam dizer que ele era apenas um louco e ela uma excêntrica. Mas eu percebi a verdade naqueles olhares, percebi a autenticidade. No mesmo día presenciei estupidez e ódio, fiquei a me perguntar: quem eram de fato os loucos?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A Vida (Como conduzi-la, ou como não)

Conselhos com relação à forma que se deve conduzir a vida são completamente inúteis e consequentemente devem ser desconsiderados por aqueles que pretendem ser fiéis a sí mesmos e suas escolhas.

Supondo que ninguém se encontra satisfeito com sua condição atual, almejando tornar-se diferente do que é no momento, na eterna sensação de insatisfação e ambição, os conselhos de qualquer pessoa são reflexos de frustrações ou vontades. Ao seguir conselhos o ser torna-se parecido com a imagem criada pelo conselheiro, alcançando uma condição sonhada por este, que por não ser real e muito menos embasada na consciência do aconselhado tem uma probabilidade mínima de ser eficaz.

A única forma sensata de se tomar decisões na busca de resultados aprazíveis é a desconsideração de conselhos e fórmulas pré-estabelecidas. O ser deve analisar tanto experiências quanto pensamentos alheios, e através do questionamento elaborar suas próprias verdades, provadas por meio da experiência própria. Cada ser é único, percebe o mundo de forma diferente, reage ao mesmo distintamente. Dois mais dois pode perfeitamente ser cinco.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sob o Luar

Que beleza andar por estas ruas tortas
Tropeçar nestas lajotas
Cair nessas vidas alheias
Compartilhar som e cervejas

Que beleza sentar na calçada
Desta via pouco movimentada
Te escutar falar da amada
Ou qualquer coisa pra dar risada

Que beleza tragar este cigarro
Depois deste blues improvisado
Que mesmo sem sentido nem rima
Pra mim é obra prima

Que beleza escutar este violão, esta gaita
Essas vozes, batuques e palmas
Este chocalho que me quebra o galho
Já que não toco instrumento, mas conheço o tempo

Que beleza esta noite gelada
Esta noite honesta e largada
Estas vidas despreocupadas
Que se cruzam, curtem e partem

Que pena que se esqueceram de marcar
Outro lugar e hora pra se encontrar
Agora já é tarde, só resta sonhar
Com aquela bela noite sob o luar

terça-feira, 21 de julho de 2009

Por que o ser humano pós-moderno encontra-se tão frequentemente imerso em tristeza? Será realmente uma característica exclusivamente pós-moderna? Talvez apenas surgiu uma nova roupagem para esta sensação inerente à consciência.

A felicidade, como a fantasiamos, se daria pela satisfação dos desejos do ego, pela conquista das liberdades individuais. Que em sua maioría tornam-se impossíveis devido à organização da vida em sociedade. Das normas, regulamentações e principalmente do respeito. Assim nos limitamos.

Para substituir as ansias instintivas/animalescas, criamos novos conceitos de realização e consequente felicidade. Todas associadas à máquina social, ao reconhecimento, falsas em sua essência, essenciais à manutenção da sociedade.

Se neste ambito é impossível vislumbrar saída (estamos presos à sociedade), me parece que devemos buscar a satisfação na simplicidade, não negar o impulso. Como me aconteceu neste final de semana, dar um abraço ébrio numa pessoa desconhecida que surgiu aleatóriamente e ocupou alguns longos instantes da minha vida. Depois rir-se disso sem se preocupar com o que pudesse ter parecido, sabendo apenas que foi honesto e verdadeiro.

Me disseram que felicidade não é felicidade se não for compartilhada, realmente, não há melhor maneira de se sentir feliz do que fazer outros felizes, há, aqui estou eu novamente, no egoísmo do altruísmo. Mas desta vez eu consegui me enganar muito bem, acho que aprendi esta mentira como verdade, e ainda acredito nela.

domingo, 5 de julho de 2009

Sobre a consciência, a tristeza e o stress

Diz-se que o ignorante é mais feliz.

Não sei se é uma verdade, porém creio que ele seja menos infeliz. Normalmente associa-se a ignorância às classes sociais inferiores, parte disso deve-se ao fato das pessoas pertencentes a elas serem menos conscientes. Na condição de extrema pobreza o individuo sofre de desnutrição, o que gera uma incapacidade de pensamento elaborado, a preocupação se resume a fome. Já em classes operárias acontece a exaustão da condição física por meio do trabalho pesado. Ao final do dia a única preocupação é com o descanso.

O ser dito inteligente não sente-se satisfeito em permanecer inerte, necessita se expandir. Gasta sua energia com o intelecto. Estuda, lê, informa-se, por consequência torna-se mais consciente. Desta consciência surge inevitavelmente a tristeza. O ser percebe a condição do mundo que o cerca e de sí mesmo, a falta de coerência, a podridão, a inutilidade e a inercia. Percebe sua condição de incapacidade, sente-se como um doente que sofre uma operação sobre o efeito de uma anestesia que não lhe priva dos sentidos mas o priva da capacidade de ação, sente a navalha a lhe cortar mas não é capaz de fazer nada para parar o processo.

Daí surge o stress, ocasionado pelo peso dos problemas tanto exteriores quanto interiores. A consciência sobrecarrega o ser ao ponto do mesmo não mais suportar. Em razão da não exteriorização por meio da ação, impossível devido a massificação da ignorância, o stress se acumula até o ponto em que não é mais possível ser contido, o resultado é o colapso nervoso. Sem motivo aparente o ser explode, em raiva, carência e insanidade.

Excluíndo-se o suicídio a solução seríam doses ocasionais de alienação, de Soma. Infelizmente após o efeito a consciência retorna, ainda mais forte, o próprio Soma torna-se ineficaz. O ser consciente não consegue enganar-se.

Parece que a inteligência, resultado da evolução, tornou-se conflitante com a própria evolução. Talvez a inteligência, da forma que a apresento, não seja realmente inteligência, pelo menos no ponto de vista evolutivo. Quanto mais consciênte torna-se o ser, mais ele percebe como é imbecil e limitado.

Minha cabeça não pára de girar e se remoer. Tudo contitui um circulo vicioso, um eterno retorno, de onde me é impossível escapar.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Medo, segregação e imobilidade

O inferno são os outros, os outros são os diferentes, os inferiores, os perigosos. Nós somos os poderosos, os dominantes, os abastados. Nós tememos os outros.

A contínua luta de classes, classes que se dividem em razão de fatores econômicos, políticos, sociais e religiosos. Luta de classes que é parte inerente do que chamamos de sociedade.

A população se espreme cada vez mais no espaço urbano, empulera-se em edificios enormes. Aperta-se em espaços reduzidos. Aninha-se em seus buracos e não os deixa enquanto não houver necessidade, é muito perigoso lá fora.

Quem tem chance escapa, deixa de viver em uma toca elevada para se guarnecer dentro de uma fortaleza coletiva. Criam seu mundinho particular onde não há violência nem inconvenientes. Vindos do outro lado do muro ou do noticiário, ecos de tiros e gritos.

Os muros antes invisíveis, porém bem conhecidos, tornam-se físicos. Nós tememomos os outros, então nada mais lógico do que nos trancarmos em prisões particulares. Do conforto de nossa cela, esbravejamos cegos contra o muro de Israel / Palestina ou dos EUA / México.

Aos ecos de tiros somam-se agora o de explosões, mas que se foda, aqui dentro está confortável. Espere, que sangue é esse que escorre rua adentro? Vai nos contagiar! Que absurdo, tomemos uma providência. Assembléia, votação. A solução? Brutamontes vestidos de preto com adoráveis caveiras sinistras à adornar seus quepes.

Mudar por que? Se tem por quê não tem como. E assim a máquina vai girando. Dinheiro, é tudo por dinheiro.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Quem somos nós?

Esta extensão do ocidente, resultado do espírito aventureiro, da exploração, da miscigenação. Somos, europeus, africanos, asiáticos, índios...

Conformados religiosos? Religiosos conformados?

Originais? Ou moldados à matriz dos ideais estrangeiros?

Sob uma bandeira nacional, se extende uma massa desigual.

Quem sou eu entre nós?

Viajante das idéias, das conversas, da música. Construíndo e destruíndo o ser, em busca de uma identidade própria, singular. Rejeitando os hinos e as ideologias. Buscando uma vida aprazível.

O nós se faz necessário, na aprovação e no questionamento, o nós também sou eu.

Nós é ao mesmo tempo o mundo e a sala. E eu, estou inserido nos dois.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O lamento desesperado de aviões apressados
As linhas que se cruzam no tempo e no espaço
Destinos ignorados pela rotina impensada
Acaso que guia vidas sem compasso
Quem foi que se perdeu?
Deixou de existir no pensamento
Já faz tanto tempo
Nem na memória o alento
Amnésia? Desatenção
A vida sem coração
Não pulsa
Não sente
Espera dormente
Por algo que lhe aqueça
Passivo, idiota
Não merece nem esmola
Levanta, corre, explode
Que por vias abandonadas
O sangue há de fluir

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Saber

Quanto mais se sabe
Mais se sabe
Que não se sabe de nada
Sabe?
Não sabe do que eu sei
Que eu sei que sabia
Que eu sei que não sei mais
Agora só sei que quero saber
Pra saber que nada se sabe
Mas que preciso saber
Só pra poder me entreter

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Novamente olhos ao chão e fumaça à boca, dessa vez estático. Observava os ladrilhos e as folhas secas abaixo dos meus pés. Gradativamente fui me aconchegando ao ambiente, a fumaça, sempre presente, dava a atmosfera contemplativa, e eu fitava apenas o pequeno espaço abaixo de mim.

Suavemente, através dos olhos embaçados, percebi uma tímida movimentação. Pequenos pontos pretos piscavam aqui e lá aleatoriamente. Forcei um pouco a visão para voltar ao mundo real das imagens e constatei sem surpresa que formigas seguiam seu caminho alheias à minha presença.

Seres mínimos, orientadas pelo rastro deixado por outros de sua espécie, para mim pareciam estupidamente perdidas. Carregando fardos enormes sem realmente saber o por quê. Imaginei uma interação no seu mundo particular, bagunçar sua orientação esfregando tabaco em seu caminho. Com certeza tal fenômeno sería catastrófico em seu pequeno mundo. Vagariam tontas em busca da via perdida, sem largar o seu fardo, a espera que uma semelhante lhes conduzisse na direção correta. Completariam sua tarefa e a repetiriam novamente.

Que seres idiotas, pensei. De um lado para o outro sem parar, sem pensar, sempre a ignorar e continuar, que vida miserável! Num suspiro de piedade levantei os olhos e observei o meu redor, vi passando por mim homens, de um lado para o outro, sem parar, sem pensar, sempre a ignorar e continuar.

sábado, 16 de maio de 2009

Expressão, Impressão, Redenção

Nesta questão metafísica
Não há verdade nem mentira
Ao que o autor expressou
O jovem garoto suicidou
Veja só que ironia
O escritor preservou sua vida

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Vasculho a memória, em busca do que me falta, sensação de esquecimento. Num dos bolsos trago a música, noutro o vício. O que mais eu preciso? Todos os dias é igual, eu chego ao final e a dúvida permanece. Verifico compulsivamente as trivialidades. Necessidade de simplificar. Quem dera pudesse encontrar, por acaso atrás do sofá, aquilo que não sei o que é.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Lembranças da infância

A psicodelía original
Tudo pela primeira vez
Imagens desconexas
Cores intensas

Via o mundo do alto
Cavalgando o velho dragão
Que baforava seu hálito quente
Arrastando sua barriga pelo mato alto da estrada

Espadas luminosas cortavam as nuvens
Fincando-se no chão de amarelo, verde e marrom
Vou me sentar aqui, me deu vontade
Nessa casa podre de madeira, com suas panelas de ferro

Pode ir, eu sou corajoso
Posso correr sem me cansar
Morro acima em direção a gigante araucária
Onde o vento me traz mensagens distantes

Socorro, tem uma serpente em minha mente
Fique comigo agora que está escuro
Me conte dos bugios que rondam a floresta
Enquanto eu durmo ao som dos grilos e dos sapos

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Banalidades Sobre Vivência

- Faltou 1 real
- Hã ? (cara de estranheza enquanto vasculhava os bolsos em busca das moedas faltantes, previamente contadas)
- Faltou 1 real, é 4 e 25 (cara de sarcasmo de não fumante filha da puta)
- Puta que pariu, caralho, políticos desgraçados, IPI da porra!!! (isto tudo em pensamento) – Não, obrigado... (na face estampadas as ofensas pensadas).

É foda... (não costumo escrever muitos palavrões nos meus textos, mas este evento me abalou, afinal, é questão de sobrevivência). Não fumantes muito felizes e contentes com a desgraça alheia. “Que maravilha” gritam extasiados enquando dão seus pulinhos de satisfação. (devaneios exagerados, eu sei, mas precisava satirizar estes sádicos).

Veio a crise, demissões, desespero, falta de demanda, falta de dinheiro. Enquanto isto na sala da justiça, nossos políticos pensavam como solucionar tais problemas. Já sei, gritou Mantega, vamos diminuir o IPI dos carros! O rombo agente cobre aumentando o dos cigarros. (Afinal, caos urbano e aquecimento global são pouca bobagem). Todos concordaram, com exceção de Lula, que preocupado com suas cigarrilhas resmungou em sua cadeira.

Agora eu terei que pagar para que outros joguem mais fumaça, façam mais barulho e quase me atropelem quando estiver caminhando por aí (ok, pensamento simplório). Mas pensando bem, porque eu, que mato somente a mim mesmo, tenho que pagar a conta? Por que não diminuir os salários absurdos de políticos e fiscais, e regular melhor os gastor públicos? Ora, quem vai se fazer estas perguntas quando existe o bode expiatório perfeito, os malditos fumantes, seres não humanos, sem direitos.

Ah claro, a saúde pública, ótimo, quem é que vai parar de fumar por causa do preço? Ou paga mais, ou compra do Paraguai, ou compra fumo de rolo e enrola em casa, mas parar acho difícil. Política de arrecadação de fundos perfeita, explorar o vício alheio, vai ter gente comendo pior para poder comprar o cigarro, afinal, segundo Huxley os gastos com tabaco e alcool são maiores do que os com comida. Na China foi o contrário, pelo escandalo que gerou, a lei já caiu, mas o consumo de determinada quantia de cigarros foi imposta aos funcionários públicos na província de Hubei, lá o cigarro é monopólio do governo. Enfim, saúde pública de cú é rola, o que importa é a saúde econômica, ou melhor, saúde econômica dos poderosos, acionistas e governantes.

De qualquer forma em 15 anos, quando estiver pagando 20 reais na carteira vou lembrar-me de hoje com saudades, o tempo que o cigarro era só 4 e 25.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Estou seco,

As últimas gotas de umidade foram evaporadas por meu cigarro amargo, meus labios queimados não são capazes nem de sentir seu beijo. Meu peito se comprime, meus pulmões dóem, meu coração não mais bate, meus olhos não tem mais brilho.

Estou seco.

Não posso verter uma lagrima sequer. A escuridão está tão densa, que absorveu meu ser, transformou-o em uma massa viscosa, preta como petróleo, pesada como chumbo. Tão densa, criou gravidade, me engole aos poucos como um buraco negro. Preciso apenas de uma lágrima, para me libertar, uma lágrima ácida que corroa minha angústia.

Estou seco.

domingo, 3 de maio de 2009

De repente apareceu, num segundo estava lá. De repente a consciência, a percepção. De repente um espelho, e então começou. Nunca mais parou, primeiro as simples, motivo de risos, depois mais complexas, inteligentes, e por fim, as impossíveis. Perguntas sem resposta.

De repente a razão, a negação, a constatação. De repente a desilusão. Sempre mais, e ele cada vez menos, não de repente, mas gradativamente. Nasceu sabendo tudo, e foi desaprendendo pouco a pouco, a cada livro, a cada conversa, a cada pensamento.

Foi afundando, ficando acinzentado, corcunda, repugnante. Não demorou muito para adoecer, lhe faltava a vontade. De repente fraco, de repente debilitado, de repente dependente, de repente uma cama, aconchegante e quente. Noites infinitas de morte, esquecimento, de repente inconsciência.

Conflito, dualidade, suícidio, imortalidade. Curou-se da doença, levantou-se e foi, levando no rosto uma expressão enigmática, misto de amargura com ironía. Desde então vem vivendo de momentos, sustos e surpresas, enganando a sí mesmo o melhor que pode.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Bunker escuro e morto
Árvores secas e tortas
Tinta descascando
Um camaleão em preto e branco

Eu não estou aqui e isto não está acontecendo

Ruínas de um hotel
Águas trêmulas numa banheira
Uivos esquecidos no vento
Berço caído, chão liso, aço frio

Não deixarei que isto aconteça com minhas crianças

Seco
Dissecado
Empalhado

Eles chupam sangue jovem

Não há chuva para sua arca
Nunca chegaremos à lua

Minha cabeça é um rádio
Apenas retransmitindo

Es.....t.....at.....
...i................
.......c.....a......
...............

terça-feira, 21 de abril de 2009

O Caolho na Terra dos Cegos

Muitos repetem sem pensar, que ele seria um rei. Não poderiam estar mais errados. Na terra dos cegos, não existe pior maldição que ser caolho. Ele, que pretenciosamente julga ter uma percepão mais avançada, lúcida e racional, se encontra completamente sozinho. Para ele existe um mundo de cores, luz e escuridão. Os cegos, ignoram completamente tais fatos. Para eles o mundo é de texturas, sons e cheiros, que o caolho jamais perceberá com a mesma intensidade.

Ele tenta, desesperadamente, fazer com que os cegos entendam sua percepção do mundo. Mas a única coisa que lhes causa, é extrema dor. Não por não verem, algo que é incompreensivel na sua condição. Mas pelo fato de ele mesmo não poder sentir e escutar como eles, aceitar a realidade verdadeira da terra dos cegos.

Ainda assim percebe o caolho, que sua visão é defeituosa, não encherga claramente, tem limitações. Não importa o quanto tente, não consegue ver perfeitamente. Por fim ele constata, para seu desespero,que não existem óculos na terra dos cegos.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Escuridão

Eu quero a escuridão
A densa massa negra
Que aguarda ansiosa
Por iluminação

Eu quero a virgindade
Intelectual e sensorial
Eu quero a idealização
O romantismo

Eu quero o medo
A incerteza
Eu quero expectativas
Descobertas

Esta penumbra me angustía
Quero de volta, o completo breu
A cegueira
Os passos vacilantes

Eu quero a esperança
De que amanhã sera melhor
Não este conformismo
De que não há sentido

Eu quero uma noite negra
Com pontos respingados
Ou nuvens fantasmas
Uma noite que me faça sonhar

domingo, 15 de março de 2009

Durante a Madrugada

Na madrugada de um dia passivo
Minha existência se confronta
Os entulhos se amontoam
Com sonhos destruídos

A tristeza esperada
De uma alma solitária
Que se eleva momentaneamente
Para depois cair mais fundo

Todos os bons momentos
Que me trouxeram felicidade
Cobram agora sua taxa
Na mesma intensidade

Este é preço da ilusão
O que é o real?
Sou eu mesmo que estou aqui,
Carregando esta vida inútil?

Não responda!
Você não sabe de nada
Nem eu mesmo sei
Sei só que não me encaixo

O que vou fazer?
Para onde vou?
Agora vou até a janela
Respirar fundo e voar

Aproveitar o momento
De falsa liberdade
Antes que me prendam
Me amarrem e me tragam de volta

As amarras são de arame farpado
Já lutei em pânico e fúria
Inútil! Só me feri
Estou domado, não posso mais fugir

sexta-feira, 6 de março de 2009

Paixões

Conheci muitos apaixonados
Por mulheres
Por idéias
Por dinheiro
Por prazeres

Todos determinados, absortos, cegos
Felizes em suas alienações, afirmados em suas razões

O sentido não existe, e minha única paixão
Encontro na retórica desta afirmação
No seu decorrer ela mesma perde a coerência
É a mesma satisfação da demência
Um circulo infinito
Um redemoinho
Que me suga pelo ralo
E me joga no vazio
Onde não há verdade
Nem mentira
Nem extase
Nem agonia
Apenas a consciência da ilusão

Ilusão que não diferencia um faminto desnutrido de um intelectual deprimido
Um prato de comida ou uma constatação genial, o resultado é o mesmo:
Satisfação

Nisso se resumem as paixões
Hedonismo
Mascarado, quase imperceptível
Até na submissão à espectativas
E em atitudes altruístas

Mas eu não consigo, prefiro ser um descrente fodido, que um alienado entretido


Há ! Até parece ! Garçon me vê mais uma cerveja, que a cabeça tá começando a fluir...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Planeta Eu

Sou composto de muitas depressões
Florestas densas e monções
De vez em quando um vulcão num copo de cachaça
Ou uma chapada num papo camarada

Quando olho de cima
Numa auto-análise crítica
Tais nuances são inexpressivas
Devaneios inúteis de uma mente primitiva

Vivemos em função de nossas angústias
Tão absortos não percebemos
Sem exceção, são todas fúteis

Não importa quanto eu teorize
Não há nada que me tire
O medo ante um penhasco
E o prazer de um vento frio

Os rios ferozes esculpirão meus vales
Suas águas constituirão minhas tempestades
No final dos ciclos, elas mesmas que me castigaram
Regarão meus renascimentos em novas fases

Assim anda a vida no planeta Eu

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Ressentimento

Era um domingo de tarde, cheio de ebriedade, no aconchego da amizade sincera, amizade que escancara todas as portas e janelas, que com o passar dos anos derruba todos os muros, nos faz expor o peito na inocência e felicidade da verdadeira camaradagem. Amizade que nos faz confiar cegamente, segredos, angustias e até a vida.

Bobagens e risadas se seguiam, sorrisos abertos e acordes incertos. Um papo frenético, no ritmo de um romance beatnik, os rolos de papel das nossas ideias sendo devoradas pela máquina de escrever da nossa língua. De repente num descuido, num faiscar estúpido, me descontrolei, e toda a podridão vociferei numa resposta impensada.

Foi então que eu desabei, todo o resto se borrou e apenas podia ver sua face, como que num quarto escuro a me fitar, nos seus olhos mergulhei, na expressão de dor, de traição, de desilusão. Mergulhei no infinito, e lá saboreei o gosto amargo do arrependimento. Naquele milésimo de segundo percebi uma eternidade, o tempo parou para me castigar, havia ferido seu peito aberto para um amigo, e meu coração era penetrado por mil agulhas. Tudo foi tão rápido que não tive nem tempo de desfazer o sorriso idiota que tinha no rosto.

Assim que voltei a mim, desviei constrangido o olhar. Alguém fez um comentário alheio a situação e o tempo continuou na sua cadência natural. As risadas voltaram a encher o ar, nada foi comentado nem demonstrado, afinal era uma coisa boba, imperceptivel, apenas nossos subconscientes entenderam, escondendo o ressentimento bem fundo em algum canto escuro no fim sem saída de um dos labirintos de nossas mentes.

É exatamente nestes cantos escuros que vamos nos perder nos momentos de desespero, são esses ressentimentos que nos fazem dar o impulso suicída ou construir com tijolos maciços e arame farpado, o muro.

Quem me dera poder voltar àquele momento, para ficar calado, não ter hoje que carregar este fardo, lembrar daquela expressão que me assombra. O perdão não adianta, o que está feito está feito. Só espero que você nunca passe por perto deste canto escuro, que ele fique bem esquecido, escondendo o que não deveria ter sido proferido.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Revolução Pessoal

Estude
Trabalhe
Compre um carro
Case
Compre um apartamento
Tenha filhos
Tenha netos
Morra
Vá para o céu

Assim que aprendi a entender as palavras, fui bombardeado com milhares de regras, conceitos, tradições e verdades absolutas. Minha mente de criança não foi capaz de filtrar tudo que me era vomitado. Primeiro os pais, depois o pastor, a televisão, a escola. Sem capacidade de questionamento engoli tudo e aceitei cegamente. Tinha fé para mover montanhas, mas elas não se moviam. Mesmo assim o padrão era mais forte, ridicularizava os diferentes, não aceitava outros pensamentos, me irritava com quem discordava da verdade.

Veio a adolescência, hormônios em turbulência, dúvidas crescentes, rebeldia inerente. Mandei tudo à merda, não tinha alternativas, mas tudo que tinha aceitado até então não podia ser verdade, logo nos primeiros questionamentos tudo desabou, não podia mais viver sob aquelas mentiras. Desta revolta não se criou nada de imediato, apenas negação. O processo de quebra dos paradigmas foi lento e difícil, muitos medos me foram impostos, muitas explicações fáceis apresentadas, tudo massificado, incontestável, absoluto. Opor-se ao poder consolidado e fortalecido só leva à derrota. Esta aceitei, me entreguei a danação, já podia ouvir as sirenes da policia do karma.

O corpo cresceu e a mente amadureceu, muitas idéias trocadas, muitas páginas folheadas, muitas experiências vividas, muitas pessoas conhecidas. Cada vez mais questionamentos surgiam, mais temas a serem discutidos, mais inconformismos, cada vez mais inquietação. Aprendi que quanto mais se procura menos se sabe, quanto mais se estuda menos se entende, quanto mais se critica mais dúvidas surgem. A renúncia de paradigmas não resulta necessariamente na criação de outros...

...neste vazio ideológico tenho vivido.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Rua Sem Saída

Olhos ao chão
Fumaça à boca
Cabelos ao vento
Frio, desalento

Escuras ruas de paranóia
Desespero conformado
Angustia contida
Grito afogado

Afundando em meio aos prédios
Insignificante ser revoltado
Sonhos aniquilados, coração destroçado
Solitário niilista amaldiçoado

Fugir ou se entregar ?
Morrer ou se alienar ?
O acaso há de se encarregar