terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Reflexos do Por do Sol

Ao som da tropicália
Louca, harmoniosa e hipnotizante
Percebo a paisagem se alterar pela minha janela

Não vejo o sol mas sei que ele se despede
Uma profusão de cores me surpreende
Como que pela primeira vez as vejo
A cidade inspira os últimos raios de luz
Enquanto as sombras escalam as paredes do lado oposto

De amarelo como ouro o mundo se ilumina
E não posso fazer nada além de contemplar
Lentamente tudo se transforma em vermelho
Num ultimo lamento deste dia
Que morre para amanhã ressuscitar

Mais alguns minutos e o lilás cobre o céu
Azul celeste ao fundo, roxo nas nuvens e nas paredes
Lentamente os ventos sopram
E as grandes caravelas brancas navegam

Lá em baixo os faróis se acendem
Os homens indiferentes andam apressados
A noite se aproxima com sua atmosfera monocromática
E uma obra de arte sem moldura é ignorada

domingo, 30 de novembro de 2008

Um vinho na praça

Um vinho na praça
Do lado um comparça
Em meio as risadas
O barulho da água

Ao cair da chuva
O coração se machuca
Na lembrança que ficou
O tempo que passou

Nas colunas me abriguei
Numa porta me encostei
Mais um gole e uma tragada
Mais uma frase jogada

Pra frente companheiro
Não deixe o passado te prender
Cada um tem os seus meios
Sobre outro ninguém tem poder

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mente Inerte

O tempo que antes me faltava e era desculpa para toda a minha inutilidade agora está sobrando. As noites agora estão livres e tenho tempo para usar como bem entender. Pois bem, as conseqüências diretas seguem abaixo:

Morbidez
Marasmo
Desespero
Tédio

Talvez esteja acostumado a não ter tempo pra parar e pensar, vivo nesta correria pós-moderna infernal, sempre uma voz falando, um telefone tocando, uma luz piscando, um zumbido irritando. Me acostumei a não viver, apenas sobreviver, dia após dia nesta maldita rotina, e de repente quando me deparo comigo mesmo no silencio do meu quarto, não encontro nada. Na tentativa de provar para mim mesmo que tenho alguma essência me ponho a escrever, após várias tentativas frustradas desisto. Fumando um cigarro na janela e olhando a cidade a se aquietar na escuridão, nem mesmo a velha tristeza me acompanha. É tudo apenas desesperança e cegueira. Será que me entreguei? Envelheci? Deixei de ser para apenas estar?

Por isso é que lhe peço, conte-me seus sonhos, diga-me o que tens feito, por onde tens andado, quem tens amado e quem tens odiado, me fale sobre o que te alegra e o que te entristece, quais são suas ansiedades e suas conquistas.

Conte-me tudo, me distraia por um minuto, pois não há mais sopro em minha alma e eu apenas flutuo inerte neste mar imundo.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Consumismo

Ao entrar no grande refeitório tirou as mãos dos bolsos e relaxou os ombros que havia encolhido para se proteger do frio. O cheiro quente e enjoado da comida entrou por suas narinas e fez com que a fome cessasse instantaneamente. Resolveu apenas tomar um café e fumar um cigarro para aproveitar o pouco tempo que tinha de almoço. Ao deixar o copo sobre uma mesa e riscar o fósforo percebeu um grande cartaz que se estendia pela parede desbotada a sua frente. Um desenho colorido enchia o papel. Pequenos homenzinhos patéticos alinhavam-se lado a lado, todos iguais, inexpressivos, frios. Eles mantinham os braços erguidos sustentando uma base. Levantando lentamente os olhos e soltando a fumaça viu erguer-se desta base uma grande pirâmide, e no topo brilhava o logotipo da empresa. Em cima estavam algumas palavras motivacionais, ele não prestou atenção nelas, apenas caminhou lentamente para fora e voltou ao seu computador. Deveria sentir-se satisfeito pelas conquistas do grupo, deveria sentir-se parte do todo, uma peça fundamental, mas para ele estas coisas não passavam de mentiras, não eram para ele.


As seis horas piscaram no canto de seu monitor mas ele não podia ir , ainda tinha uma pilha de relatórios para fazer, trabalhou até as dez e foi embora exausto, saiu pelo portão e acendeu outro cigarro, ainda precisava esperar o ônibus. Iluminado pela amarela luz de um poste um jornal era folheado pelos dedos do vento, rapidamente um anúncio publicitário apareceu entre as páginas, percebeu as cores vibrantes, emanando alegria, mas não conseguiu ver o que ele dizia. Depois de olhar seu relógio umas seis vezes o ônibus apareceu. Estava praticamente vazio, apenas uma velha enrugada e um bêbado desorientado, sentou-se sozinho e apoiou a cabeça no vidro fechando os olhos vermelhos de cansaço. Depois de uma meia hora percebendo que já estava chegando ao seu ponto abriu lentamente os olhos e com a visão ainda embaçada notou as mesmas cores do anuncio do jornal refletidas na janela ao seu lado. Desceu do ônibus e olhou em volta procurando a fonte das cores, encontrou um grande outdoor, nele as cores vibrantes e alegres estavam estampadas, uma pessoa sorridente segurava um celular de ultima geração, ele se imaginou naquele anúncio, sendo a figura principal, iluminado e sorridente, completamente satisfeito, não apenas um homenzinho patético. Os detalhes do aparelho estavam espalhados pelo outdoor, tirava fotos, tocava mp3 e tinha até bluetooth. Não tinha nada interessante para fotografar, não tinha tempo nem interesse para música, não sabia o que era Bluetooth, Há muito que nem mesmo ligava para alguém, mas no outro dia já possuía um aparelho. Precisava dele, não queria mais sentir-se apenas como um patético homenzinho e aquele sorriso, aquelas cores, aquela imagem era tudo que ele precisava.


Na segunda-feira acordou diferente, foi para o trabalho feliz, ficou até tarde e voltou para casa satisfeito, teria que trabalhar três meses para quitar o celular, continuava sendo apenas um pequeno homenzinho patético, mas desta vez não percebia.