Era um domingo de tarde, cheio de ebriedade, no aconchego da amizade sincera, amizade que escancara todas as portas e janelas, que com o passar dos anos derruba todos os muros, nos faz expor o peito na inocência e felicidade da verdadeira camaradagem. Amizade que nos faz confiar cegamente, segredos, angustias e até a vida.
Bobagens e risadas se seguiam, sorrisos abertos e acordes incertos. Um papo frenético, no ritmo de um romance beatnik, os rolos de papel das nossas ideias sendo devoradas pela máquina de escrever da nossa língua. De repente num descuido, num faiscar estúpido, me descontrolei, e toda a podridão vociferei numa resposta impensada.
Foi então que eu desabei, todo o resto se borrou e apenas podia ver sua face, como que num quarto escuro a me fitar, nos seus olhos mergulhei, na expressão de dor, de traição, de desilusão. Mergulhei no infinito, e lá saboreei o gosto amargo do arrependimento. Naquele milésimo de segundo percebi uma eternidade, o tempo parou para me castigar, havia ferido seu peito aberto para um amigo, e meu coração era penetrado por mil agulhas. Tudo foi tão rápido que não tive nem tempo de desfazer o sorriso idiota que tinha no rosto.
Assim que voltei a mim, desviei constrangido o olhar. Alguém fez um comentário alheio a situação e o tempo continuou na sua cadência natural. As risadas voltaram a encher o ar, nada foi comentado nem demonstrado, afinal era uma coisa boba, imperceptivel, apenas nossos subconscientes entenderam, escondendo o ressentimento bem fundo em algum canto escuro no fim sem saída de um dos labirintos de nossas mentes.
É exatamente nestes cantos escuros que vamos nos perder nos momentos de desespero, são esses ressentimentos que nos fazem dar o impulso suicída ou construir com tijolos maciços e arame farpado, o muro.
Quem me dera poder voltar àquele momento, para ficar calado, não ter hoje que carregar este fardo, lembrar daquela expressão que me assombra. O perdão não adianta, o que está feito está feito. Só espero que você nunca passe por perto deste canto escuro, que ele fique bem esquecido, escondendo o que não deveria ter sido proferido.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
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4 comentários:
Cara esse ficou bem bom!
Vou colocar seu poema lá. Assinar the lunatic?
osh, mas eu que ganhei a aposta!
Fazia tempo que não entrava aqui, e olha só!, tem um monte de texto novo. Gostei bastante desses últimos... mas não estou inspirado pra fazer um comentário relevante agora haha
Tudo lindo.
Mesmo os cantos escuros tem sua beleza, sabe?
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