sábado, 30 de janeiro de 2010

Desespero Nostálgico (encontrado num antigo baú digital)

Era um Sábado de tarde, lá pelas 5 horas, o clima estava ameno, pelo menos para ele, que gostava de tempo frio, os calafrios na espinha gerados por correntes repentinas eram uma das poucas coisas que faziam com que se sentisse vivo. De baixo a cima um raio pulsante de energia sensitiva, logo em seguida um chacoalhar de ombros e um gemido trêmulo de satisfação.

Desligou o computador e abriu sua gaveta de vinis, acariciou-os um a um até achar The Pros and Cons of Hitch Hiking, olhou um pouco para a capa e lembrou-se de On the Road, a loira e tentadora liberdade, vestida de vermelho ao lado de sua estrada, só esperando que ele parasse e a convidasse para entrar em sua vida. Tirou o disco cuidadosamente, uma soprada e encaixou-o lentamente no prato, depois o botão para começar as 33 rotações por minuto e finalmente a agulha, posicionada precisamente,lift down e pronto, chiados, estalos, um trovão e a música começava a se impor.

Suspirou profundamente e pegou um cigarro da carteira em cima da mesa, se ajeitou em sua poltrona e acendeu-o. Deu a primeira tragada, longa, como sempre a melhor, soltou a fumaça lentamente, uma nuvem densa de prazer mórbido. A música ia evoluindo, se misturando ao ar esfumaçado, que fugia sorrateiramente pela fresta aberta da janela. Esfregou os olhos com o polegar e o indicador, mais um suspiro e se revirou inquieto.

Puta que pariu, pensou, Puta Que Pariu, sussurou, PUTA QUE PARIU, gritou enfurecido. Levantou rápido e esbarrou no toca discos, um estrondo e então um “AAArrrggghhh!!!” característico de Roger Waters.

Andou até a janela e abriu-a por completo, se debruçou sobre ela e com os olhos fechados e a cabeça baixa deu mais uma tragada com toda a força, começou a tossir, e se misturando à tosse começou um riso compulsivo, como que num auto-sarcasmo dos mais cruéis. Jogou fora o cigarro e sentou-se no chão, de costas para a parede, com os joelhos dobrados, ainda com sua risada psicótica.

- Estou enlouquecendo! Estou pirando! Estou atolado nesta merda! – sussurou atônito.

Com um estrondo a porta foi arrombada e o apartamento violentamente invadido. Não pensou duas vezes, pulou pela janela do sétimo andar.

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